sexta-feira, 12 de julho de 2013

Geografias Pós-Modernas

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da universidade de São Paulo- Graduação em Geografia- Teoria e Método I- 2° Semestre

De Guilherme Henrique de Paula Cardim  aluno da graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo




            Tema: Reflexões sobre a Geografia Pós- Moderna e seus Métodos a partir das aulas do professor Rodrigo Valverde



David Harvey em A condição pós-moderna que é uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural chama a atenção para o aspecto estético do modernismo, sendo marcado por um movimento dual entre o transitório e o eterno; a característica deste processo é o da ausência da preservação dos laços com o passado. “A modernidade, por conseguinte, não apenas envolve uma implacável ruptura com todas e quaisquer condições históricas precedentes, como é caracterizada por um interminável processo de rupturas e fragmentações internas inerentes”.
A importância dessa pesquisa de Harvey foi mostrar as fases históricas do processo de pensamento moderno. A primeira fase seria a que prevaleceu o extremo do pensamento iluminista, liberal, universalista, mas por se mostrar politicamente alienante para classes operárias que nasciam no processo de revolução industrial. A partir de 1848, o ideal socialista ganha espaço sobre as classes que estavam afastadas da forte atuação política governamental, além disso a pratica socialista conseguia responder as duvidas pertinentes sobre a desigualdade de classes.

Com o fim da bèlle èpoque e a superveniência da I Guerra Mundial, características do pensamento liberal proveniente do iluminismo entram em decadência, já que não se mostravam mais como um nexo para a evolução social, porque a guerra foi uma barbárie feita pelos ditos civilizados. Logo, nas palavras de Harvey, nessa fase, “o modernismo assumiu um perspectivismo e um relativismo múltiplos como sua epistemologia, para revelar o que ainda considerava a verdadeira natureza de uma realidade subjacente unificada, mas complexa” e Harvey compara com o período anterior com a seguinte frase,” A queda das crenças iluministas unificadas e a emergência do perspectivismo deixavam aberta a possibilidade de dar à ação social uma atribuição de alguma visão estética, de modo que as lutas entre as diferentes correntes do modernismo passaram a ter um interesse mais do que passageiro”.

             Por último, temos a etapa do Pós-Segunda Guerra Mundial; nesta, o modernismo “heróico” , tipicamente difundido pelos Estados Unidos, através de sua cultura de consumo e do american way of life, mostrado perfeitamente pelo cinema de Hollywood, deu lugar ao modernismo universalista que utilizava  uma hegemonia e apresentava um nexo mais favorável com os centros de poder emergentes do pós-guerra. O establishment, o status quo, era o êmulo da produção cultural da época.

            Para contrapor esta última fase do modernismo, começam as correntes pó-modernistas. Como pode ser entendido na obra Geografia e Modernidade de Paulo César da Costa Gomes, por sua vez, entende ser a modernidade construída ...“sob a forma de um duplo caráter: de um lado, o território da razão, das instituições do saber metódico e normativo; do outro, diversas ‘contracorrentes’, contestando o poder da razão, os modelos e
métodos da ciência institucionalizada e o espírito universalizante”

Para Harvey, o movimento pós-modernista, inicia sua representação na estética, observando a nova arte e a nova comunicação que se opõe ao que é pregado pela cultura de massa veiculada pela grande imprensa, como se nota em “estratégias pluralistas e orgânicas para a abordagem do desenvolvimento urbano como uma colagem de espaços e misturas altamente diferenciados, em vez de perseguir planos grandiosos baseados no zoneamento funcional de atividades diferentes”.

 Talvez para Harvey, o fato mais marcante sobre o pós-modernismo é a “ sua aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico que formavam uma metade do conceito baudelairiano de modernidade.” Por um outro lado,  Harvey expõe sobre lado psicológico pós-modernismo, enquanto o modernismo procurava à busca do futuro ( o moderno, o evoluído), o pós-modernismo tentava observar as circunstâncias induzidas pela fragmentação e pela instabilidade típicas da vida, de modo que impede o planejamento do futuro.

Para Gomes, existem dois pólos epistemológicos na Geografia desse momento, o da racionalidade e o da contra-racionalidade, que permeiam a modernidade. O primeiro estaria fixado em entender matematicamente a o espaço, por isso usava muito métodos lógico-indutivos e formalistas, já o segundo estria fixada em entender historicamente o espaço humano, utilizando de maior diversidade de métodos, principalmente herméticos e críticos-participativos. Já no pólo racional, observa-se maior uso de textos descritivos, enquanto no segundo mais dissertativos.

            Segundo Edward Soja em sua obra Geografias Pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria social crítica indica que as primeiras manifestações da Geografia Pós-Moderna iniciaram no final da década de sessenta, porém não eram muito fortes. Coincide com o início da implantação dos planos neoliberais na economia mundial , com a crise do petróleo, com o período de  dètente a decadência da economia típica do pós guerra.

Já o pós 1989, que se caracteriza pela globalização, neoliberalismo e revolução técnico-científica-informacional. Portanto, são intrínsecos a nova ordem mundial, a multiculturalidade, o domínio territorial e político das grandes corporações, a desigualdade de direitos e oportunidades e a rapidez dos fluxos. Além do excessivo êxodo rural nos países subdesenvolvidos, ou seja, a transformação do campo e o aumento populacional do meio urbano.
Logo, os métodos e ideais pós- modernistas entraram fortemente nas pesquisas geográficas por conseguirem melhor desvendar as duvidas decorrentes dos fenômenos novos decorrentes do processo de globalização, urbanização crescimento populacional gigantesco do que os outros métodos pautados em ideais já antigos. Isso entre os motivos apresentados e também  por sofrer, o pós-modernismo, influência de várias escolas, mostrando uma grande abertura de possibilidade de uso de métodos e a inovação metodológica para compreender o espaço, ou seja, o pluralismo da sociedade da nova ordem mundial influenciou o pluralismo nos métodos das ciências humanas.
            O desenvolvimento dos métodos da escola pós-moderna é retrato de um planeta pós 1989, ou seja, pós a queda do muro de Berlim e o colapso do socialismo soviético. Com isso, parecia o fim das utopias e inovações nas reflexões das ciências humanas, sobrevivendo somente o lado “vencedor””( capitalista). Contudo, a extrema dicotomia ideológica entre o socialismo soviético e o capitalismo ocidental, que ditavam os moldes dos métodos nas ciências humanas foi perdendo o foco, pela falta de pluralidade metodológica. Assim, boa parte das reflexões que partiam de métodos tão autoritários e fechados, não conseguiam explicar muitos fenômenos geográficos da nova ordem mundial.

A abertura de métodos mostra-se pela ausência de modelos obrigatórios a serem seguidos. Visa um afastamento de métodos neopositivistas ou positivistas, ou seja, de características comuns nos métodos lógicos- indutivos, como a finalidade de formular leis ou teses quase axiomáticas, buscando modelos perfeitos e generalistas, que não levam em conta a singularidade de cada lugar. Por isso, para os pós-modernistas a geografia deve trabalhar com escalas pequenas e não se restringir a uma área espacial pré-determinada pelo Estado.
Por isso, muitos pós-modernos se baseiam no relativismo, como o espaço ser pensado não mais de forma euclidiana, mas sim de forma como pensava Leibnitz, ou seja, um espaço mais dinâmico, em que a questão de conectividade não é formada pela proximidade do espaço físico, mas sim, por um espaço feitos por redes e pontos dinâmicos e conexos que não dependem do espaço concreto, mas sim do abstrato. Inclusive influiu a cartografia mostrando as cartas topológicos essa conectividade e as cartas topográficas um espaço euclidiano.
Essa questão do debate entre o espaço euclidiano e leibnitziano, tem andamento pela necessidade de entender os motivos da velocidade de fluxos de informação, mercadorias e serviços, observando a desigualdade espacial entre o espaço que é integrado com as redes de informação e receptor e produtor de novas tecnologias e o espaço não integrado, por não ter oportunidade de usar as novas tecnologias.
 Observando a partir disso, a imposição ideológica, ética, cultural, política, jurídica e econômica do espaço integrado sobre o espaço não integrado, ou seja, a verticalização das relações sociais, por conta do dualismo econômico e espacial. O espaço integrado é o espaço das grandes empresas, e das classes que são privilegiadas por estas, enquanto o espaço não integrado é o espaço do povo.
O Estado é instrumento para que as grandes empresas consigam ordenar à dinâmica sócio- espacial. Ele é por si próprio autoritário e limita a atuação política popular. A antiga geografia modernista que servia ao Estado. Contudo a nova geografia pós- moderna deve usar o conhecimento sobre o espaço não em função das vontades do Estado que não presa Bem-Comum, mas sim para a sociedade planejar seu futuro, buscando relações mais horizontais.  Portanto, outra característica comum entre os pós-modernistas é o apartidarismo e a tentativa de se libertar dos limites políticos e tradicionais do Estado.
A verticalização e o amparo do Estado para esse fenômeno podem ser vistas na reflexão de Edward Soja, quando ele mostra que Los Angeles, como qualquer metrópole, tem uma formação urbana semelhante a um Panótipo retratado por Bentham e trabalhado pela filosofia de Foucault. No Panótipo urbano, os estabelecimentos públicos de autoridade se concentram na região central, de onde parecem sair as grandes veias viárias e as redes de informação, como se o Estado tivesse as utilizando para vigiar e controlar as áreas mais periféricas da metrópole, além de cercar a metrópole com bases militares. Porém, o Estado ajuda o crescimento sem freios de empreendimentos imobiliários das grandes empresas e pouco ajuda o desenvolvimentos dos bairros latinos e negros.
O Estado usava a estética cultural para impor o ideal da classe dominante, pondo como inferior e subdesenvolvida e com um olhar preconceituoso a cultura que representava as castas mais baixas, como exemplo pode ser dito a proibição de cultos religiosos negros no Brasil até a década de 1930. Hoje o Estado ampara uma estética baseada na ideologia do consumo, no “ter e não no ser”, como exemplo é o decréscimo das taxas de IPI para automóveis no Brasil, sendo também o único país no mundo a tributar educação, ou seja, o valor da res, do produto é superior ao da sabedoria.
 No método pós-moderno, existe a intenção de observar as diferenças sem preconceitos, não inferiorizando a cultura de determinados povos e mostrando a beleza da diversidade. Alias, nos métodos pós-modernos há intenção de mostrar as diferenças e desarmonias humanas com naturalidade, mas sem deixar de estudar os motivos, causas e efeitos da desarmonia para saber como possibilitar não a igualdade em si, mas o desenvolvimento. Desenvolvimento nas palavras de A. Sen seria a faculdade de cada individuo de usar liberdades e direitos para conquistar sua identidade cidadã.
O dualismo econômico que exibe no espaço e a pregação ideológica de inferioridade cultural organizam a sistemática social formando uma estrutura ordenatória mais desigual entre as pessoas. A isonomia nos Estados Liberais Capitalistas que se baseiam na meritocracia produtiva, acentua a desarmonia social, por não levar em conta as oportunidades de concorrência econômica das classes baixas. Esse fator é uma forte causa para o pessimismo dos pós-modernistas.
Em conclusão, para o método pós-modernista o espaço não é homogêneo, a não homogenidade é intriseca a estética, ao espaço. Entretanto, cada individuo deve conquistar a sua faculdade de exercer a cidadania, e o estudo geográfico pode ampara o ser para isso. Por isso, a crítica pode ajudar a tentativa de termos mais relações horizontais relativo, os recortes podem ser misturados para ajudar-nos a desvendar o espaço.
Além disso no pós modernismo, nãoi pode , o espaço, ser resumido. a simples leis e teses, por não existir a evolução linear do espaço. Cada lugar é um lugar, é um universo em si, logo, nesse raciocínio não pode ter leis universais.
Bibliografia:
SOJA, E. 1993. Geografias pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria
social crítica. ). Rio de Janeiro: Zahar.
MORAES, A. C. 1989. “A sistematização da Geografia Moderna” In A gênese da
geografia moderna . São Paulo : Ed. Hucitec, pp. 15-25.
MOREIRA, R. 1982. O Que é Geografia ? São Paulo: Brasiliense
GEOGRAFIAS MODERNA E PÓS-MODERNA             EVANGELISTA, HELIO DE ARAUJO

GOMES, P. C. 1996. Geografia e modernidade. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil.
Geografia: uma pequena hitória crítica      MORAES, A. C.
HARVEY, D. 1993. A condição pós-moderna - uma pesquisa sobre as origens da
mudança cultural , 3ª edição. Trad. Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela
Gonçalves. São Paulo: Loyola.
Slides do Prof. Velverde.



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