Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da universidade de São Paulo- Graduação
em Geografia- Teoria e Método I- 2° Semestre
De Guilherme Henrique de Paula Cardim aluno da graduação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
Tema: Reflexões
sobre a Geografia Pós- Moderna e seus Métodos a partir das aulas do professor
Rodrigo Valverde
David Harvey em A condição pós-moderna que é uma pesquisa
sobre as origens da mudança cultural chama a atenção para o aspecto
estético do modernismo, sendo marcado por um movimento dual entre o transitório
e o eterno; a característica deste processo é o da ausência da preservação dos
laços com o passado. “A modernidade, por conseguinte, não apenas envolve uma
implacável ruptura com todas e quaisquer condições históricas precedentes, como
é caracterizada por um interminável processo de rupturas e fragmentações
internas inerentes”.
A importância dessa
pesquisa de Harvey foi mostrar as fases históricas do processo de pensamento
moderno. A primeira fase seria a que prevaleceu o extremo do pensamento
iluminista, liberal, universalista, mas por se mostrar politicamente alienante
para classes operárias que nasciam no processo de revolução industrial. A
partir de 1848, o ideal socialista ganha espaço sobre as classes que estavam
afastadas da forte atuação política governamental, além disso a pratica
socialista conseguia responder as duvidas pertinentes sobre a desigualdade de
classes.
Com o fim da bèlle èpoque e a superveniência da I
Guerra Mundial, características do pensamento liberal proveniente do iluminismo
entram em decadência, já que não se mostravam mais como um nexo para a evolução
social, porque a guerra foi uma barbárie feita pelos ditos civilizados. Logo,
nas palavras de Harvey, nessa fase, “o modernismo assumiu um perspectivismo e
um relativismo múltiplos como sua epistemologia, para revelar o que ainda
considerava a verdadeira natureza de uma realidade subjacente unificada, mas
complexa” e Harvey compara com o período anterior com a seguinte frase,” A queda
das crenças iluministas unificadas e a emergência do perspectivismo deixavam
aberta a possibilidade de dar à ação social uma atribuição de alguma visão
estética, de modo que as lutas entre as diferentes correntes do modernismo
passaram a ter um interesse mais do que passageiro”.
Por último, temos a etapa do Pós-Segunda
Guerra Mundial; nesta, o modernismo “heróico” , tipicamente difundido pelos
Estados Unidos, através de sua cultura de consumo e do american way of life, mostrado perfeitamente pelo cinema de
Hollywood, deu lugar ao modernismo universalista que utilizava uma hegemonia e apresentava um nexo mais
favorável com os centros de poder emergentes do pós-guerra. O establishment,
o status quo, era o êmulo da produção cultural da época.
Para
contrapor esta última fase do modernismo, começam as correntes pó-modernistas.
Como pode ser entendido na obra Geografia e Modernidade de Paulo César
da Costa Gomes, por sua vez, entende ser a modernidade construída ...“sob a
forma de um duplo caráter: de um lado, o território da razão, das instituições
do saber metódico e normativo; do outro, diversas ‘contracorrentes’,
contestando o poder da razão, os modelos e
métodos da ciência institucionalizada
e o espírito universalizante”
Para Harvey, o
movimento pós-modernista, inicia sua representação na estética, observando a
nova arte e a nova comunicação que se opõe ao que é pregado pela cultura de
massa veiculada pela grande imprensa, como se nota em “estratégias pluralistas
e orgânicas para a abordagem do desenvolvimento urbano como uma colagem de
espaços e misturas altamente diferenciados, em vez de perseguir planos
grandiosos baseados no zoneamento funcional de atividades diferentes”.
Talvez para Harvey, o fato mais marcante sobre
o pós-modernismo é a “ sua aceitação do efêmero, do fragmentário, do
descontínuo e do caótico que formavam uma metade do conceito baudelairiano de
modernidade.” Por
um outro lado, Harvey expõe sobre lado
psicológico pós-modernismo, enquanto o modernismo procurava à busca do futuro (
o moderno, o evoluído), o pós-modernismo tentava observar as circunstâncias
induzidas pela fragmentação e pela instabilidade típicas da vida, de modo que
impede o planejamento do futuro.
Para Gomes, existem dois
pólos epistemológicos na Geografia desse momento, o da racionalidade e o da
contra-racionalidade, que permeiam a modernidade. O primeiro estaria fixado em
entender matematicamente a o espaço, por isso usava muito métodos
lógico-indutivos e formalistas, já o segundo estria fixada em entender
historicamente o espaço humano, utilizando de maior diversidade de métodos,
principalmente herméticos e críticos-participativos. Já no pólo racional,
observa-se maior uso de textos descritivos, enquanto no segundo mais dissertativos.
Segundo Edward Soja
em sua obra Geografias Pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria
social crítica indica que as primeiras manifestações da Geografia
Pós-Moderna iniciaram no final da década de sessenta, porém não eram muito
fortes. Coincide com o início da implantação dos planos neoliberais na economia
mundial , com a crise do petróleo, com o período de dètente
a decadência da economia típica do pós guerra.
Já o pós 1989, que se
caracteriza pela globalização, neoliberalismo e revolução
técnico-científica-informacional. Portanto, são intrínsecos a nova ordem
mundial, a multiculturalidade, o domínio territorial e político das grandes corporações,
a desigualdade de direitos e oportunidades e a rapidez dos fluxos. Além do
excessivo êxodo rural nos países subdesenvolvidos, ou seja, a transformação do
campo e o aumento populacional do meio urbano.
Logo, os métodos e ideais
pós- modernistas entraram fortemente nas pesquisas geográficas por conseguirem
melhor desvendar as duvidas decorrentes dos fenômenos novos decorrentes do
processo de globalização, urbanização crescimento populacional gigantesco do
que os outros métodos pautados em ideais já antigos. Isso entre os motivos
apresentados e também por sofrer, o
pós-modernismo, influência de várias escolas, mostrando uma grande abertura de
possibilidade de uso de métodos e a inovação metodológica para compreender o
espaço, ou seja, o pluralismo da sociedade da nova ordem mundial influenciou o
pluralismo nos métodos das ciências humanas.
O
desenvolvimento dos métodos da escola pós-moderna é retrato de um planeta pós
1989, ou seja, pós a queda do muro de Berlim e o colapso do socialismo
soviético. Com isso, parecia o fim das utopias e inovações nas reflexões das
ciências humanas, sobrevivendo somente o lado “vencedor””( capitalista).
Contudo, a extrema dicotomia ideológica entre o socialismo soviético e o
capitalismo ocidental, que ditavam os moldes dos métodos nas ciências humanas
foi perdendo o foco, pela falta de pluralidade metodológica. Assim, boa parte
das reflexões que partiam de métodos tão autoritários e fechados, não conseguiam
explicar muitos fenômenos geográficos da nova ordem mundial.
A abertura de métodos
mostra-se pela ausência de modelos obrigatórios a serem seguidos. Visa um
afastamento de métodos neopositivistas ou positivistas, ou seja, de
características comuns nos métodos lógicos- indutivos, como a finalidade de
formular leis ou teses quase axiomáticas, buscando modelos perfeitos e
generalistas, que não levam em conta a singularidade de cada lugar. Por isso,
para os pós-modernistas a geografia deve trabalhar com escalas pequenas e não
se restringir a uma área espacial pré-determinada pelo Estado.
Por isso, muitos
pós-modernos se baseiam no relativismo, como o espaço ser pensado não mais de
forma euclidiana, mas sim de forma como pensava Leibnitz, ou seja, um espaço
mais dinâmico, em que a questão de conectividade não é formada pela proximidade
do espaço físico, mas sim, por um espaço feitos por redes e pontos dinâmicos e
conexos que não dependem do espaço concreto, mas sim do abstrato. Inclusive
influiu a cartografia mostrando as cartas topológicos essa conectividade e as
cartas topográficas um espaço euclidiano.
Essa questão do debate entre
o espaço euclidiano e leibnitziano, tem andamento pela necessidade de entender
os motivos da velocidade de fluxos de informação, mercadorias e serviços,
observando a desigualdade espacial entre o espaço que é integrado com as redes
de informação e receptor e produtor de novas tecnologias e o espaço não
integrado, por não ter oportunidade de usar as novas tecnologias.
Observando a partir disso, a imposição ideológica,
ética, cultural, política, jurídica e econômica do espaço integrado sobre o
espaço não integrado, ou seja, a verticalização das relações sociais, por conta
do dualismo econômico e espacial. O espaço integrado é o espaço das grandes
empresas, e das classes que são privilegiadas por estas, enquanto o espaço não
integrado é o espaço do povo.
O Estado é instrumento para
que as grandes empresas consigam ordenar à dinâmica sócio- espacial. Ele é por
si próprio autoritário e limita a atuação política popular. A antiga geografia modernista
que servia ao Estado. Contudo a nova geografia pós- moderna deve usar o
conhecimento sobre o espaço não em função das vontades do Estado que não presa
Bem-Comum, mas sim para a sociedade planejar seu futuro, buscando relações mais
horizontais. Portanto, outra
característica comum entre os pós-modernistas é o apartidarismo e a tentativa
de se libertar dos limites políticos e tradicionais do Estado.
A verticalização e o amparo
do Estado para esse fenômeno podem ser vistas na reflexão de Edward Soja,
quando ele mostra que Los Angeles, como qualquer metrópole, tem uma formação
urbana semelhante a um Panótipo retratado por Bentham e trabalhado pela
filosofia de Foucault. No Panótipo urbano, os estabelecimentos públicos de
autoridade se concentram na região central, de onde parecem sair as grandes
veias viárias e as redes de informação, como se o Estado tivesse as utilizando
para vigiar e controlar as áreas mais periféricas da metrópole, além de cercar
a metrópole com bases militares. Porém, o Estado ajuda o crescimento sem freios
de empreendimentos imobiliários das grandes empresas e pouco ajuda o
desenvolvimentos dos bairros latinos e negros.
O Estado usava a estética
cultural para impor o ideal da classe dominante, pondo como inferior e
subdesenvolvida e com um olhar preconceituoso a cultura que representava as
castas mais baixas, como exemplo pode ser dito a proibição de cultos religiosos
negros no Brasil até a década de 1930. Hoje o Estado ampara uma estética
baseada na ideologia do consumo, no “ter e não no ser”, como exemplo é o
decréscimo das taxas de IPI para automóveis no Brasil, sendo também o único
país no mundo a tributar educação, ou seja, o valor da res, do produto é superior ao da sabedoria.
No método pós-moderno, existe a intenção de
observar as diferenças sem preconceitos, não inferiorizando a cultura de determinados povos e mostrando a
beleza da diversidade. Alias, nos métodos pós-modernos há intenção de mostrar
as diferenças e desarmonias humanas com naturalidade, mas sem deixar de estudar
os motivos, causas e efeitos da desarmonia para saber como possibilitar não a
igualdade em si, mas o desenvolvimento. Desenvolvimento nas palavras de A. Sen
seria a faculdade de cada individuo de usar liberdades e direitos para
conquistar sua identidade cidadã.
O dualismo econômico que
exibe no espaço e a pregação ideológica de inferioridade cultural organizam a
sistemática social formando uma estrutura ordenatória mais desigual entre as
pessoas. A isonomia nos Estados Liberais Capitalistas que se baseiam na
meritocracia produtiva, acentua a desarmonia social, por não levar em conta as
oportunidades de concorrência econômica das classes baixas. Esse fator é uma
forte causa para o pessimismo dos pós-modernistas.
Em conclusão, para o método
pós-modernista o espaço não é homogêneo, a não homogenidade é intriseca a
estética, ao espaço. Entretanto, cada individuo deve conquistar a sua faculdade
de exercer a cidadania, e o estudo geográfico pode ampara o ser para isso. Por
isso, a crítica pode ajudar a tentativa de termos mais relações horizontais
relativo, os recortes podem ser misturados para ajudar-nos a desvendar o
espaço.
Além disso no pós
modernismo, nãoi pode , o espaço, ser resumido. a simples leis e teses, por não
existir a evolução linear do espaço. Cada lugar é um lugar, é um universo em
si, logo, nesse raciocínio não pode ter leis universais.
Bibliografia:
SOJA, E. 1993. Geografias
pós-modernas: a reafirmação do espaço na teoria
social crítica.
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Que é Geografia ? São Paulo: Brasiliense
GEOGRAFIAS MODERNA E PÓS-MODERNA EVANGELISTA, HELIO DE ARAUJO
GOMES, P. C. 1996. Geografia
e modernidade. Rio de Janeiro:Bertrand Brasil.
Geografia: uma pequena hitória crítica MORAES, A. C.
HARVEY, D. 1993. A
condição pós-moderna - uma pesquisa sobre as origens da
mudança
cultural , 3ª edição. Trad. Adail Ubirajara Sobral e Maria Stela
Gonçalves. São Paulo: Loyola.
Slides do Prof. Velverde.
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